sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Estudo do dia 10/01/2010 – Leitura de “Educação – para quê?”, p. 139-149.

Dado que no momento em que vivemos o objetivo educacional não nos é claro, a pergunta para que é a educação se torna novamente necessária. A importância desta retomada da pergunta se dá devido ao fato de que, se não temos claro qual o objetivo verdadeiro da educação, o objetivo da educação é construído de forma ideológica.
Porém, não se trata de alguém decidir sobre a orientação da educação de outros, mas sim de se desenvolver a “produção de uma consciência verdadeira”. Não poderia, por exemplo, um professor decidir o que é melhor para os seus alunos, mas sim trabalhar para o desenvolvimento da autonomia dos mesmos.
Para Adorno não bastaria que a situação social mudasse para que os indivíduos se tornassem emancipados, pois ainda assim a situação continuaria a se legitimar frente à incapacidade de pensar por si mesmo. Ou seja, como nos diz Becker, a mudança social não ocasionaria a mudança da consciência dos indivíduos, e, sendo assim, a Educação nos dias de hoje deveria nos oferecer orientações sobre o comportamento no mundo e não modelos ideais preestabelecidos que tenham pretensão de modelar os indivíduos pelo seu exterior.
Theodor Adorno destaca dois problemas com os quais a educação se depara ao se tratar de emancipação: o primeiro diz respeito ao fato de a organização do mundo ter se tornado sua própria ideologia; e o segundo trata-se das diferenças de adaptação à realidade existentes entre nós. Para o autor, é preciso que a educação tenha em si dois processos opostos: a resistência e a adaptação do indivíduo à realidade. Pois para que a educação não seja ideológica, ainda que ela aparente ser ambígua, deve conter em seu conceito a tensão entre esses dois processos. Desta forma, a educação deve preparar os homens para se orientarem no mundo; o que requer a consciência de que a realidade exerce uma forte pressão sobre as pessoas, e um comportamento de não apenas adequação à realidade – pois só se pode mudar a realidade se houver conhecimento de seus defeitos e de suas vantagens.
A educação deve prezar pela preservação das qualidades individuais. Tanto uma educação que aposta apenas na adaptação, quanto outra que aposta na resistência, podem ocasionar um “conformismo uniformizador” (p. 143), visto que uma educação baseada em um modelo ideal resulta numa eliminação das qualidades individuais.
A preservação das qualidades individuais nos permite a promoção da espontaneidade, que é um elemento fundamental da educação emancipatória. De forma que os indivíduos devem estar aptos à experiência e a não se limitarem a ver o mundo por uma camada estereotipada.

5 comentários:

Anônimo disse...
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André disse...

Caros,

Acho que há muitas afirmações desconexas em relação ao texto neste post. Percebo que os principais conceitos aparecem no post mas de forma "esquisita". Quer dizer, há afirmações feitas que eu não encontro no texto da entrevista.
"A importância desta retomada da pergunta se dá... o objetivo da educação é construído de forma ideológica" - Onde Becker e/ou Adorno afirmam isso? É importante responder a pergunta para pensar a educação. Não me parece que seja preciso de outro motivo.
"...a pergunta para quê é a educação se torna novamente necessária." De onde surge esse "novamente"? Não há citação de que essa pergunta tenha sido "necessária" antes? - Acho ruim o "necessário" para a pergunta. Não se trata de ela ser, ou não, necessária em uma época, mas de ser, ou não, necessário pensar sobre ela, expô-la, explicitá-la...

O segundo parágrafo parece responder a pergunta tema do texto. Mas não se trata disso, senão o texto poderia terminar neste ponto. O que Adorno faz na pg. 141 é dar uma definição de Educação. É uma reposta para a pergunta "O que é educação", mas não para o "Para quê", entendem? De alguma forma o "para quê" está relacionado à um contexto cultural mas não o "o que é".
"Para Adorno não bastaria que a situação social mudasse para que os indivíduos se tornassem emancipados... frente à incapacidade de pensar por si mesmo." Primeiramente não achei no texto uma afirmação deste tipo. Em segundo lugar, me parece que frase mesma é contraditória: se a tese se confirma (a mudança social torna os indivíduos emancipados), então o final da frase simplesmente não existe. Ou seja, se a mudança causar a emancipação então não é verdade que "a situação continuaria a se legitimar frente à incapacidade de pensar por si mesmo", pois então os indivíduos seriam emancipados e não teriam "incapacidade de pensar por si mesmo[s]", entendem? De qualquer forma acho que a afirmação vai além do que há no texto e, portanto, não pode ser atribuída ao Adorno mas só aos autores do post.

Na parte que segue há uma referência à fala do Becker do início da pg. 141 que penso que esteja equivocada. Tb não vejo Becker dizer que "a mudança social não ocasionaria a mudança da consciência dos indivíduos" e não entendo que ele diga que "...a educação nos dias de hoje deveria nos oferecer orientações sobre o comportamento no mundo...". Ora, como "oferecer orientações" se separa de "oferecer modelos ideais"? De qualquer forma, o que ele diz é que "atualmente a educação tem muito mais a declarar acerca do comportamento no mundo". Ou seja, ele não diz o que ela deveria ser, mas o que ele é. Ele nos conta de uma mudança de posição de educação nos dias atuais. Ele deixou de ser um intermediário e passou a ser um discurso que "tem muito a declarar sobre o comportamento no mundo". Para mim parece como se a educação passasse a ter uma força de "diagnóstico" do mundo. E, não vejo como isso tem algo a dizer sobre alguma impossibilidade da mudança social ocasionar a emancipação de indivíduos.

André disse...

"Para o autor é preciso que a educação tenha em si dois processos opostos: a resistência e a adaptação..." Em primeiro lugar entendo que esses termos (adaptação e resistência) não são do Adorno e nem mesmo são introduzidos por ele na conversa mas pelo Becker se referindo ao Schelsky (é importante marcar o que é de cada um pois eles discordam em muitos pontos). O Adorno adota os termos mas, penso eu, sem "amor" a eles. De qualquer forma ele admite que há um movimento de adaptação que perpassa a educação mas, por outro lado, ele defende que esse pólo deve ser desprivilegiado em nossos dias se levamos "em conta o peso imensurável do obscurecimento da consciência pelo existente"(pg. 143). Assim, não é possível atribuir ao Adorno algo como: "pois para que a educação não seja ideológica, ainda que ela aparente ser ambígua, deve conter em seu conceito a tensão entre esses dois processos" (isso soa mais como uma posição do Becker). Ele não está dizendo o que a educação "deve conter" mas ele está (na pg. 143-144) dizendo que HÁ ambiguidade não no conceito de educação, mas no conceito de "educação para a consciência e para a racionalidade". Ele não está "legislando" sobre a educação (se estive, então cairia na criação de um modelo ideal), mas está "investigando" a educação, refletindo sobre ela em nosso tempo. Percebem a diferença?

O que vem em seguida tb tem cara de fala do Becker e não do Adorno. De qualquer forma, os dois estão colocando maior peso sobre o pólo que em seguida é nomeado como "resistência" e não sobre a adaptação. Assim não é possível atribuir à eles a conclusão de que "a educação deve preparar os homens para se orientarem no mundo". E mais, essa posição (a da adaptação) não é diretamente conciliável como o "o que requer a consciência de que a realidade exerce uma forte pressão sobre as pessoas" como colocado no post. O Adorno segue o texto sempre pontuando a importância de tornar o tudo consciente na educação (como meio de não cairmos em "defeitos" como a heteronomia). Mas daí a dizer que "só se pode mudar a realidade se houver conhecimento de seus defeitos e de suas vantagens" há uma grande distância. Eles simplesmente não falam dessa hipótese. Mas podemos ver que é óbvio que é possível mudar a realidade sem ter conhecimento de suas vantagens e defeitos. O que está em discussão é a importância de ser consciente da realidade de qual participamos, isso para que não aceitemos os tais "modelos ideiais". Trata-se exatamente de afirmar a importância dessa consciência que é pressuposto para uma reflexão necessária à posição autônoma. Entendem?

Não vejo como uma educação que aposte na resistência possa ocasionar um "conformismo uniformizador",alguém poderia explicar? Também não vejo como necessário que "uma educação baseada em um modelo ideal resulta numa eliminação das qualidades individuais". Afinal, e se for um modelo ideal que afirme a importância das qualidades individuais? Isso seria possível: um modelo ideal que afirme as qualidades individuais? Ou, nesse caso, a valorização das qualidades individuas apareceria como algo uniformizado? Parece-me que o problema maior é ainda o da consciência se somos capazes de pensar um modelo que afirme o que seria o certo sem com isso sair da uniformização...

André disse...

No último parágrafo acho que usaram o termo "espontaneidade" com certa imprecisão. Quer dizer, esse termo aparece no texto para se referir a experiências não ordenadas que seriam muito importantes na formação das crianças. Experiências que quando reproduzidas de forma ordenada perderiam muito de sua profundidade. Nesse sentido, como se pode dizer que a espontaneidade
"é um elemento fundamental da educação emancipatória"? Quer dizer, parece que espontaneidade surge com um sentido comum, como uma capacidade do indivíduo que deveria ser estimulada. Mas entendo que ela parece no texto com um sentido que se refere muito mais a uma disposição externa, do ambiente. Como no caso de haver (ou não) uma sonata para piano e violino na sala ao lado... Parece-me também que a oposição entre Adorno e Becker (pois eles discordam nesse exato ponto...) passa por essa diferença. Becker estaria privilegiando um aspecto mais pessoal e se referindo à conscientização de forma mais simples, como combate à falta de conhecimento do indivíduo sobre algo. Adorno discorda pontuando que a "alienação" (que aparece para Becker como oposta à consciência) é consequência da estrutura social.

Por fim, não vejo relação direta (como a colocada no post) entre as qualidades individuais e o "estar aptos à experiência e a não se limitarem a ver o mundo por uma camada estereotipada". Quer dizer, a relação parece ser de que todas essas coisas seriam buscadas por uma educação emancipadora e, nesse sentido, seriam nascidas da autonomia. Entendem?

Quem escreveu o post?

Beijos

Paulo disse...

Olá, Dé!

Penso que seja melhor levar ao estudo de hoje o texto, que o Álvaro e eu postamos, e seu comentário para discutirmos. Depois faço os devidos comentários no blog para aqueles que não puderem comparecer na reunião de hoje.

Abraços e bjs.