sábado, 11 de janeiro de 2014

Filme "Azul é a cor mais quente"

Ficha Técnica:
Título original: La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2
Estreia: 6 de dezembro de 2013
Direção: Abdelltif Kechiche
Com: Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos e Jérémie Laheurte
Gênero: drama, romance

Sinopse: Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma garota de 15 anos que descobre, na cor azul dos cabelos de Emma (Léa Seydoux), sua primeira paixão por outra mulher. Sem poder revelar a ninguém seus desejos, ela se entrega por completo a este amor secreto, enquanto trava uma guerra com sua família e com a moral vigente.

Curiosidade: Le Bleu est une Couleur Chaude é uma adaptação das histórias em quadrinho homônimas, escritas e desenhadas por Julie Maroh, e publicadas em 2010.

Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-203302/

Comentários do grupo:
Adèle parece bastante insegura sobre sua sexualidade, não consegue assumir-se para os colegas de escola no inicio nem para os pais no meio do filme e nem para os colegas de trabalho no final.
Comentamos que a principal diferença entre Emma e Adèle é a classe social. Emma está muito segura de sua sexualidade, ela também tem preocupações relacionadas à arte, filosofia e liberdade. Já Adèle pretende fazer uma faculdade que a qualifique para o mercado de trabalho, por isso escolhe ser pedagoga. Tal diferença fica bastante nítida na festa que Emma e Adèle dão em sua casa, Adèle prepara toda a comida e serve os convidados, ela fica um tanto deslocada na conversa dos amigos de Emma e somente interage com um ator que depois vira corretor de imóveis.
Entendemos que Emma ocupa uma posição masculina na relação, uma posição mais ativa, já Adèle assume uma posição mais passiva. Isto fica evidente em vários momentos do filme, por exemplo: quando Emma descobre a traição de Adèle e a manda embora, Emma diz algo como “Saia da minha casa”, também podemos citar o momento em que Adèle está lavando a louça e Emma está deitada lendo uma revista. Adèle se mostra bastante dependente de Emma em todo o filme, mesmo depois de alguns anos de separação Adèle ainda não superou o término do relacionamento.
Destacamos que o filme vai esfriando no mesmo ritmo do relacionamento de Emma e Adèle. Na primeira parte, a relação sexual é bastante evidenciada, há umas 3 ou 4 cenas de sexo, a primeira delas bastante longa. Porém, na segunda metade do filme, quando elas já estão morando juntas, não há mais cenas desse tipo. É também na segunda metade do filme que Emma muda a cor de seu cabelo de azul para loiro. Também observamos que a primeira cena de sexo, que é bastante longa, pode visar a naturalização da relação sexual feminina, pois no inicio, a cena é bastante erótica, porém depois o telespectador começa a se cansar e já não tem mais nada de diferente.
O nome do filme no Brasil, mais próximo do nome da HQ que inspira o filme (Le bleu est une couleur chaude – literalmente, “o azul é uma cor quente”), parece fazer referência a duas significações tradicionalmente associadas ao azul. A primeira delas é a referência à tristeza, que faz com que em inglês “blue” signifique tanto “azul” como “triste, melancólico, deprimido”. A segunda, e que parece estar mesmo mais presente no filme, é a referência à água. Segundo esse aspecto, a vida de Adèle estaria relacionada com as características típicas da água: esta flui, não oferece grande resistência, se adapta ao recipiente em que é colocada. A situação em que a água assume mais claramente a cor azul é no mar, e este também tem características encontradas na narrativa: o mar oscila com as ondas e pode ser muito profundo. Em qualquer caso, as características da água ao mesmo tempo em que a colocam em certa submissão aos sólidos que a conformam, fazem dela uma potência capaz de “escorrer” entre os obstáculos e, se for preciso, perfurá-los, redesenhá-los ou dissolvê-los. Todos esses aspectos da água, como dissemos, parecem adequados à história narrada. E a associação parece mesmo ser provocada pelo filme, já que água está presente em discussões nas aulas, na música que Adèle dança em seu aniversário (I follow rivers, cujo refrão diz “eu vou seguir você ao mar profundo”), e na cena em que Adèle aparece boiando no mar.
A possibilidade de pensar uma “vida líquida”, como seria o caso de Adèle, que se deixa “fluir” segundo as situações, remete à compreensão de Zygmund Bauman sobre o tempo contemporâneo. O sociólogo polonês escreveu vários livros (o primeiro foi “Modernidade líquida”) em que utiliza a metáfora do líquido para representar o modo com o mundo atual está organizado. Mas essa aproximação exigiria mais cuidado para ser atestada.

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